27 de março de 2011

O Sétimo Samurai


Era um grupo de sete amigos descendentes de japoneses, todos providos dos seus costumes e tradições em uma terra totalmente estrangeira. Nessa terra eles cresceram, casaram-se, criaram seus filhos e encerraram a carreira, como diria o apóstolo Paulo em uma metáfora sobre a morte. Dos sete, sobrou um, que se intitulava o sétimo samurai em referência ao filme japonês “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa. O sétimo samurai era o rei do bom humor e da boa levada.  Com o seu sotaque proveniente da língua japonesa ele embalava as risadas com uma boa ópera italiana. Tomava frente de todos os brindes com um “Kampai” em alto e bom som e dizia debochado, fazendo bico,  que a sua bebida era Veuve Clicquot. Ao mesmo tempo em que esbanjava a sua brasileirice com risadas e espontaneidade, ele mantinha os protocolos que lhe foram imputados em sua criação e não era de grandes contatos físicos, assim como os seus ascendentes, o seu abraço se limitava a um breve tapinha nas costas acompanhado de um “Hai”. O seu afeto era diferente. Quando ganhava um presente, ele fazia questão de usar e mostrar, com orgulho, para o presenteador. Se era uma camiseta, ele estufava a barriga, apontava com o dedo dizendo “ó”  e dava um sorriso lindo. Tinha uma memória de monge e como um samurai não deixava passar nenhum detalhe da vida. Ele era todo sorrisos e se alimentava de sorrisos. Quem conheceu o Seu Luis já sorriu na vida e  já brindou a vida com uma cerveja bem gelada, do jeito que ele gostava.

Homenagem ao meu avô Luis Kishimoto.

18 de março de 2011

Vovó

Hoje lembrei, com nostalgia, do tempo em que as avós tinham no rosto as marcas da velhice e a sua beleza era toda estampada pelos anos.

Me recordo de como era gostoso passear pelo bairro, de mãos dadas, com a vó Sinobu. Não trocávamos uma palavra, mas o silêncio da sua presença me bastava. As vezes sentávamos no quarto e ela cantava os hinos da biblía para mim. Aquele momento representava muito mais do que uma experiência religiosa. O sagrado estava na nossa comunhão, na comida gostosa e na admiração.

Lembrei também das vezes que ia ao sítio visitar a Vó Onélia. De manhã eu tomava o leite quentinho, recém tirado da vaca, e comia os pães caseiros que só ela sabia fazer.
Toda noite, antes de dormir, eu pedia a "bença" só para ouvir um "Deus te abençoe, minha filha", sentir o seu dedo àspero na minha testa fazendo o sinal da cruz e depois receber um beijo de boa noite.

Outro dia escutei de uma pessoa que estava grávida, que a sua mãe não queria que o neto lhe chamasse de avó. Achei triste essa senhora privar, por vaidade e medo de envelhecer, a criança do gosto de falar "vovó".
A palavra vovó desprende dela diversos significados. Vovó é a figura estampada na Dona Benta do Sítio do Picapau Amarelo. É aquela criatura de cabelinhos brancos, dotada de sabedoria e contadora de histórias. Vovó é a sua cúmplice "nos crimes". É aquela que te dá doce antes do almoço, que deixa você dormir tarde e te defende dos seus pais. A vovó sempre faz a sua comida preferida e manda você repetir até não aguentar mais. Vovó é aquela velhinha que faz você ter vontade de envelhecer igual.