30 de janeiro de 2010

12 de janeiro de 2010

Fragmentos do livro "A eternidade e o desejo" de Inês Pedrosa



"O que se vê nunca se pode narrar com rigor. As palavras são caleidoscópios onde as coisas se transformam noutras coisas. As palavras não têm cor- por isso permanecem quando as cores desmaiam"

"Conheceu Deus o seu ser, a sua grandeza, a sua infinidade, a sua omnipotência; e o parto que saiu deste imenso conceito de si mesmo, foi outro ele; outro mesmo foi e é o Verbo, tão grande, tão imenso, tão infinito, tão omnipotênte, tão Deus como o mesmo Pai. A imagem mais perfeita, a proporção mais ajustada, e a medida mais igual da obra, é o conhecimento de si mesmo em quem a faz"

"E como o primeiro efeito, ou a última disposição do amor, é cegar o entendimento, daqui vem que isto, que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama porque conhece, é amante; quem ama porque ignora, é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem ignorando ofendeu, em rigor não é delinquente. Quem ignorando amou, em rigor não é amante"

10 de janeiro de 2010

Impulso



Foi no dia da preguiça, de quem cansou de procurar, que ele me olhou de soslaio e chegou com aquele impulso solto, que só quem sente sabe o que é, coisa de dentro, passo de fé. Derrepente se fez muito: encheu de canto os meus cantos, me deu suspiros sortidos, abraços distribuídos -Ê coisa boa que perdura. Não cobrou fatura, me ama sem pesar e sem gastura. Não é daqueles amores que param por desgaste, maltratam ou enjoam (efeitos todos de paixão que sofre calada, explode pra dentro, paixão que esquece de quem gosta, rasga os defeitos, se camufla e vai embora igual chega: rápida, mágica e trágica).  
Só que agora,  penso nele toda hora, como quem respira e senta. Satisfeita me contento bem contente. Me embala a nova melodia de sinos de alegria, que invadiu meu lar, em forma de um par.

8 de janeiro de 2010

Malva

Texto feito no dia 4/12/2009

Foi em alguma de suas tertullias que Malva percebeu sua solidão, entre algumas pessoas notou o quão sozinha era. Sempre fora rodeada por amigos, mas sentia que desaparecia entre a multidão que a cercava, que chamava seu nome mas não a conheciam e não sabiam da sua história. Sentiu-se só não somente  de pessoas, mas de sí. Percebeu que não descobrira-se, não sabia identificar seus sentimentos e as vezes se enganava tanto, que acreditava em suas próprias mentiras. No silêncio tentava fugir de sí, nunca parou para se observar e sentir seu corpo, nesse momento, ou colocava uma música, ou lia um livro ou ligava para alguém. O seu eu tentava confrontá-la,  mas ela se fazia surda para não escutá-lo.
Porém, quando descobriu essa solidão, pensou pela primeira vez na relação que tinha com o corpo que habitava e questinou se seria tratada de maneira diferente pelas pessoas se tivesse outro corpo e fosse um pouco mais baixa ou mais gorda. Também se questionou sobre o que realmente a deixava triste, porque as vezes mascarava um motivo de tristeza e o escondia, pois acháva-o tolo demais para ser considerado e também pensou no que realmente a deixava feliz.
Ficou alguns minutos repetindo o seu nome com os olhos fechados malva, malva, malva, malva, malva, e sentiu como se puxassem sua alma pela boca.
Passou as mãos no rosto e sentiu o formato do nariz, a concavidade dos olhos, a textura da sua pele, sua boca, o formato do queixo, as suas saliências e escutou sua respiração.
Pensou na infância e tentou resgatar desta o que contribuiu para que ela fosse ela, perguntou-se se seria a mesma se tivesse sido criada em outro ambiente e por outras pessoas, questinou sua essência, ela por acaso mudaria?
No dia que Malva ficou sozinha, ela gerou a Malva, que fez companhia para a Malva, até então sozinha.