29 de maio de 2012

Desengano

Foi no sorriso em um lugar qualquer que você ficou preso em mim
As lembranças mais bonitas das indetermináveis risadas cúmplices só de nós dois
Muitos anos vividos em um ano corrido de ajustes e (p)reparos
Lembrancinhas, doces, arranjos, toalhas que formaram nossa aliança
Descobertas, amores e segredos que só cabiam a nós dois
Uma esperança cega de ter um fruto que mistura o seu sabor com o meu
Uma vida que exclui as duas vidas para ser uma só
Uma certeza incerta de um futuro fechado e lacrado
Histeria de paixão, idas e vindas sem horário para partir
Saudades absoluta na gravidade
Uma fábula sem moral
Fantasia
Imaginação
Uma língua energética, afiada,impetuosa
Tempestade que estala e derruba
Um sentimento que não tinha hora para balançar se despe endemoninhado
E o santuário do nosso canto, nosso sossego vira um templo pagão cheio de sacrifícios de dor, exorcismos de amor
Foram lá para oxalá as ovelhas que pastoreávamos com fanatismo e dedicação excessiva
E o que parecia ser alguém é um outro alguém que me trai com o mesmo alguém
As mentiras se misturaram com quem você poderia ser e não é ou é…Eu não sei
E nossas luas e sonhos não tem mais nenhuma razão e rima
Dá vontade de desenhar a dor para que alguém entenda o que é a desilusão
É um sentimento que não morre, mas está matando
Vontade de ser feliz junto quando se está triste de ficar perto
Incerteza de pensar se daqui um ano, dois ou um dia estaremos do jeito que sonhamos ou que nunca imaginamos estar
É (con)viver com a dúvida
Querer fugir de uma coisa que parece impossível
Mudar o que não dá
Fazer mágica de mentira
Tentar um jeito de ser feliz
Do sentimento vencer
Vontade, a onde você foi parar?
Adianta dar um grito no vácuo?
Deus, me dá uma fatia de esperança
Uma amostra de verdade nesse amor, nesse alguém
A cumplicidade dos casais apaixonados
A vontade de ser feliz fazendo o outro feliz
Esse orgulho está envenenando o amor que parecia ter
Nos ajuda a ser como crianças
Que se entregam (como realmente são) e sempre precisam aprender alguma coisa nova
Eu quero ficar do seu lado, mas do seu lado
Não do lado do quem você quer ser e não é
Quero saber lhe dar sem cobrar-
Amor.
Mas quero também receber e ser recebida
Ser uma mulher que tem um homem
Uma família de 2 pessoas
Cúmplices.

11 de janeiro de 2012

Poesia sobre teu sono

A minha vontade é ser essa mão que apóia o seu rosto
Ficar bem pertinho dele e sentir a sua respiração bem definida
Você se esparrama na cama como se fosse um artista ensaiando o sono
As vezes encosto em você como se fosse por acidente
Preciso sentir tua perna cheia de pelos roçar na minha
A tua presença na minha cama e no meu sono, me protege
Quando você me abraça é gostoso
Mas o melhor de tudo é sentir os estágios de quando você está prestes a dormir, faz com que eu conheça algo seu que é todo meu. Começa em dois simples espasmos, duas resmunsgadas e uma respiração que vai aumentando cada vez mais. Você é lindo.
Sua sobrancelha, seu nariz e sua boca. Você é lindo.
Meu amor, minha coragem, proteção e abrigo ficam no cantinho direito da cama.

20 de dezembro de 2011

Sobre o abstrato

Tolstói descreveu uma tarde de primavera fictícia e eu consegui viver a estação naqueles parágrafos melhor do que a vivenciei em todos os anos da minha vida.

Minha professora disse que eu não escrevo bem, ela tem razão.

Como saberia escrever algo que não vejo, não sinto, que passo e despercebo? A primavera já passou e eu passei nela, sem notar e estar. Hoje fui surpreendida pela beleza que Tolstoi me proporcionou. Se não fossem os livros nos dias que eu só passo pela vida,  estaria sem estações.

Não vivi a primavera de 2011, mas vivi a primavera de Ana Karênina, Liêvin, Kitty... A literatura tem me ajudado a ver o mundo que não consigo viver com as minhas sensações e com a minha razão.

Será errado passar pelo que é real com desprazer e viver o irreal prazerosamente? Onde que estou perdendo mais?

16 de novembro de 2011

Fotografia

É te ver de longe na cachoeira. Água gelada. Sol penetrando entre as folhas que cobrem o rio. Vontade doida de gritar, olhar para cima com um sorriso aberto e abrir o braço para abraçar o tempo. Paralisar a hora em um abraço igual a fotografia faz com o momento. Molhar a nuca, o pulso e sentir frio. Dar uma risada e continuar. Mergulhar, abrir o olho debaixo da água e jogar o cabelo para trás. Ficar sem pensar é melhor que pensar sem estar. Felicidade não pensa, felicidade fica e abraça o momento. Pra depois a gente olhar a fotografia e descobrir como foi feliz.

3 de outubro de 2011

Plenitude

"Solitude"- Meu pai me disse num dia "Pesquisa o que é solitude". Tomava fôlego e sua boca enchia quando dizia "Solitude".

Pois bem, fui atrás da palavra, custou para encontrá-la.

Foi quando me juntei, que descobri a minha solidão, foi quando conheci minha solidão, que conheci a solitude e foi quando conheci a solitude que aprendi a ser feliz com a solidão.

O velho e a flor- Vinicius e Toquinho

"...É a vida quando chega sangrando aberta em pétalas de amor...
O amor é o carinho, é o espinho que não se vê em cada flor..."

Nunca se viu coisa mais linda
ai que bom que é cantar
sua música mansinha
que fala de amor, carinho e pétala de flor.
Parece um violão chorando bem baixinho...

27 de março de 2011

O Sétimo Samurai


Era um grupo de sete amigos descendentes de japoneses, todos providos dos seus costumes e tradições em uma terra totalmente estrangeira. Nessa terra eles cresceram, casaram-se, criaram seus filhos e encerraram a carreira, como diria o apóstolo Paulo em uma metáfora sobre a morte. Dos sete, sobrou um, que se intitulava o sétimo samurai em referência ao filme japonês “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa. O sétimo samurai era o rei do bom humor e da boa levada.  Com o seu sotaque proveniente da língua japonesa ele embalava as risadas com uma boa ópera italiana. Tomava frente de todos os brindes com um “Kampai” em alto e bom som e dizia debochado, fazendo bico,  que a sua bebida era Veuve Clicquot. Ao mesmo tempo em que esbanjava a sua brasileirice com risadas e espontaneidade, ele mantinha os protocolos que lhe foram imputados em sua criação e não era de grandes contatos físicos, assim como os seus ascendentes, o seu abraço se limitava a um breve tapinha nas costas acompanhado de um “Hai”. O seu afeto era diferente. Quando ganhava um presente, ele fazia questão de usar e mostrar, com orgulho, para o presenteador. Se era uma camiseta, ele estufava a barriga, apontava com o dedo dizendo “ó”  e dava um sorriso lindo. Tinha uma memória de monge e como um samurai não deixava passar nenhum detalhe da vida. Ele era todo sorrisos e se alimentava de sorrisos. Quem conheceu o Seu Luis já sorriu na vida e  já brindou a vida com uma cerveja bem gelada, do jeito que ele gostava.

Homenagem ao meu avô Luis Kishimoto.

18 de março de 2011

Vovó

Hoje lembrei, com nostalgia, do tempo em que as avós tinham no rosto as marcas da velhice e a sua beleza era toda estampada pelos anos.

Me recordo de como era gostoso passear pelo bairro, de mãos dadas, com a vó Sinobu. Não trocávamos uma palavra, mas o silêncio da sua presença me bastava. As vezes sentávamos no quarto e ela cantava os hinos da biblía para mim. Aquele momento representava muito mais do que uma experiência religiosa. O sagrado estava na nossa comunhão, na comida gostosa e na admiração.

Lembrei também das vezes que ia ao sítio visitar a Vó Onélia. De manhã eu tomava o leite quentinho, recém tirado da vaca, e comia os pães caseiros que só ela sabia fazer.
Toda noite, antes de dormir, eu pedia a "bença" só para ouvir um "Deus te abençoe, minha filha", sentir o seu dedo àspero na minha testa fazendo o sinal da cruz e depois receber um beijo de boa noite.

Outro dia escutei de uma pessoa que estava grávida, que a sua mãe não queria que o neto lhe chamasse de avó. Achei triste essa senhora privar, por vaidade e medo de envelhecer, a criança do gosto de falar "vovó".
A palavra vovó desprende dela diversos significados. Vovó é a figura estampada na Dona Benta do Sítio do Picapau Amarelo. É aquela criatura de cabelinhos brancos, dotada de sabedoria e contadora de histórias. Vovó é a sua cúmplice "nos crimes". É aquela que te dá doce antes do almoço, que deixa você dormir tarde e te defende dos seus pais. A vovó sempre faz a sua comida preferida e manda você repetir até não aguentar mais. Vovó é aquela velhinha que faz você ter vontade de envelhecer igual.

31 de janeiro de 2011

Experiência

O que representa uma experiência religiosa, na minha concepcāo, é o contato com o divíno movido por alguma experiência. Pode ocorrer na leitura de um livro,de uma  poesia, na doença, na alegria, em uma conversa ou qualquer outra situação.

A bíblia relata muitos milagres de Jesus, mas as experiências mais marcantes da sua trajetória e que mais nos ensinam algo, são aquelas que ocorreram por meio de um diálogo, um toque, um exemplo, uma história e outras atitudes que não são miraculosas , mas que foram totalmente tranformadoras e  proporcionaram as mais profundas experiências religiosas. Como, por exemplo, a conversa que teve com a mulher samaritana junto a um poço ou o toque no leproso, ambas as situações devolveram a identidade dessas pessoas, ou o sermão do monte, as parábolas, ou quando lavou os pés dos discípulos e todos os outros ensinamentos.

Várias vezes esperei algum acontecimento miraculoso como resposta às minhas inquietações. Algo do tipo- "se aquela pomba pousar no poste, quer dizer que tal coisa vai acontecer", ou de buscar situações que me sensibilizassem para "entrar em contato com o divino".

Mas as experiências mais marcantes que tive, não aconteceram em um ambiente que instigasse o meu emocional, não dependeram de situações que o acaso possa interferir, não foram transmitidas por pessoas influentes, não foram miraculosas e tampouco grandiosas. Pelo contrário, aconteceram nos lugares mais inusitados, com pessoas que não tinham pretensão alguma de mudar a minha vida e quando eu menos esperava.

Uma delas foi ao ler a história infantil "O cavalo e o menino", de C.S. Lewis. A leitura toda constituiu uma experiência religiosa que me ensinou muito sobre a soberania de Deus e a maneira como trata cada pessoa como um ser único. Pude perceber por meio da personagem Shasta que o valor e a identidade da pessoa não se constitui nos seus feitos, na sua capacidade intelectual e nem nas experiências por ela vivenciadas, mas na própria humanidade. Pois Deus é apaixonado pelo o que somos e não pelo o que fazemos. Antes de nos ensinar, Ele nos ama. Antes de ter um relacionamento conosco, Ele nos ama. Ama incondicionalmente.

Outra experiência marcante que me ensinou exatamente a mesma coisa (as vezes precisamos re-aprender algo diversas vezes) aconteceu em uma época em que estava fazendo uma faculdade da qual não gostava, não sabia o que queria da vida e tinha terminado um relacionamento longo que abalou profundamente a minha autoestima. Nessa época, fui ao centro da cidade com uma amiga comprar uns tecidos e lembro que estava me sentindo triste e esquecida por Deus.
No meio da loja de tecidos, aconteceu algo inusitado, uma faxineira que passava do nosso lado enquanto escolhíamos o tecido, pegou a minha mão, olhou nos meus olhos e disse " Deus te ama, você é linda". Isso me envolveu como se fosse um abraço de Deus. As palavras "você é linda" não soaram como um elogio a minha aparência exterior, mas tiveram o seguinte significado: "eu te amo independente do que você faça, eu te valorizo e eu a amo do jeito que é ". E não digo que foi Deus falando através daquela mulher, mas a fala dela veio exatamente no momento em que precisava ouvir isso e produziu em mim uma experiência religiosa.

Gosto da maneira como Deus trabalha na vida de cada um. Ele é bem detalhista e pessoal. Por isso acredito que para perceber esses detalhes e vivenciar experiências religiosas, é necessário aguçar a sensibilidade e seguir ao pé da letra a epígrafe do livro "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago- "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." .

21 de janeiro de 2011

Cd riscado.

Se de um jeito

Não conseguiu falar

Ou se falou, e o ouvido é que não soube interpretar


Se a palavra não penetra

As letras ficam vagas

O verbo impessoal

O sujeito inexistente

A oração é banal


Se o vocabulário já se esgotou

Se virou cd riscado

Déjà vu constante

Roupa usada

Idéia velha

Ferida mal curada


Não deixe a emoção falhar

Eis uma oportunidade

Veja bem:

Há milhares de jeitos de se expressar

Com inteligência sabe-se desvendar

.

O melhor jeito de falar

As vezes é:
Saber calar.