21 de dezembro de 2009

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado

15 de dezembro de 2009

Meu orgulho.

Se um dia perguntarem pelo meu orgulho, vou responder sem duvidar que o motivo raro, puro e em carne para me orgulhar, está prestes a me levar pro altar. Vou com ele sem hesitar. Num instante o concebi e como quem não pensa (em outra coisa) disse, arrancando de mim, as palavras para quem são - Acho que te amo. Ele - Num sorriso limpo, arriscou - Por quê?. Então,  rápida e com certeza, só respondi: Por causa de você. O sorriso voltou e seu beijo não saiu de mim. A sensação não tem fim, não sou néscia, o conheço tão bem em pouco espaço e quero ele pra sempre- Assim. Não tem o peso das paixões antigas e nem a leviandade que o tempo trazia, ele cresce, continua e permanece.

13 de dezembro de 2009

Poemas do Baú

Poema feito no dia: 22/09/2009

Confissão

Saiba, meu bem
Que o sinos soam
As meninas se arrependem
No genuflexório ficam as
Lembranças das blasfêmias
Bem vividas e experimentadas
De bocas nuas que fazem
Sorrisos e sofismos
Sorvem e depois somem
Dos pobres dasavisados
Desventurados que ficam a sonhar
Com amores não realizados

 
Poema feito para meu amigo no dia 14/10/2009
 
Poema de melhor amigo.

Tudo pelo sorriso do Caio
Uma pirueta no ar e alguns segredos de se espalhar
Mentiras muito mal contadas, só para ouvir as suas gargalhadas

Companheiro de viagens, das danças e cantigas inventadas.
Caio na vida
Caio de maio, março, abril
Cacoso, cascudo, caramujo, caramelo
Caio mago, Caio peixe, Caio Prado

EU CAIO no samba, EU CAIO no fado, EU CAIO nos fatos, EU CAIO nos pratos
Caio cristão, Caio pagão, Caio meu irmão
Caio menino, Caio chaves, Caio lixo, Caio meio bicho
Caio ri, Caio em sí
Caiomim, Curumim, Caioama, Caiomar, Caioamar.
Caio lá, Caio cá, Caioumbigo. Caio meu amigo.

8 de dezembro de 2009

A menina dos fósforos

No domingo tive uma deliciosa oficina de literatura proporcionada pela vivência cultural da prefeitura de SP, a pessoa que a ministrou decorreu sobre diversos gêneros literários, e no momento em que ele falou das fábulas, lendas e contos de fadas senti uma espécie de nostalgia, pois esses são gêneros que lí muito na minha infância e de certa maneira, me ajudaram bastante a compreender a vida e passar por algumas situações.
Há pessoas que acham as histórias perigosas pois dizem que nos afastam da realidade, mas penso que é o contrário, elas nos ajudam a compreender melhor a realidade e nos dão base para encará-la.
Um conto que me tocou muito quando lí  foi "A menina dos fósforos ", lembro até hoje da emoção que eu, no ápice dos meus 9/10 anos, senti ao lê-lo.

Segue o conto abaixo:

A menina dos fósforos
H.C. Andersen

Estava tanto frio! A neve não parava de cair e a noite aproximava-se. Aquela era a última noite de Dezembro, véspera do dia de Ano Novo. Perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre menina seguia pela rua fora, com a cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que ao sair de casa trazia um par de chinelos, mas não duraram muito tempo, porque eram uns chinelos que já tinham pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes, que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua correndo para fugir de um trem. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi apanhado por um garoto que o levou, pensando fazer dele um berço para a irmã mais nova brincar.

Por isso, a menina seguia com os pés descalços e já roxos de frio; levava no avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles a todos que passavam, dizendo: — Quem compra fósforos bons e baratos? — Mas o dia tinha ido mal. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não conseguira ganhar um tostão. Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e as faces encovadas. Pobre criança! Os flocos de neve caíam-lhe sobre os cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos seus cabelos encaracolados. Através das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque era véspera de Ano Novo. Nisso, sim, é que ela pensava.


Sentou-se no chão e encolheu-se no canto de um portal. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha coragem de voltar para casa, porque não vendera um único maço de fósforos, e não podia apresentar nem uma moeda, e o pai era capaz de lhe bater. E afinal, em casa também não havia calor. A família morava numa água-furtada, e o vento metia-se pelos buracos das telhas, apesar de terem tapado com farrapos e palha as fendas maiores. Tinha as mãos quase paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso lhe faria bem! Se ela tirasse um, um só, do maço, e o acendesse na parede para aquecer os dedos! Pegou num fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo começou a arder! Parecia a chama quente e viva de uma candeia, quando a menina a tapou com a mão. Mas, que luz era aquela? A menina julgou que estava sentada em frente de uma lareira cheia de ferros rendilhados, com um guarda-fogo de cobre reluzente. O lume ardia com uma chama tão intensa, e dava um calor tão bom! Mas, o que se passava? A menina estendia já os pés para se aquecer, quando a chama se apagou e a lareira desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.

Riscou outro fósforo, que se acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente como tule. E a menina viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca, resplandecente de louças delicadas, e mesmo no meio da mesa havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de batata, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria! De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e a faca espetados nas costas, até junto da menina. O fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.

E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Era ainda maior e mais rica do que outra que tinha visto no último Natal, através da porta envidraçada, em casa de um rico comerciante. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores, como as que enfeitam as vitrines das lojas, pareciam sorrir para ela. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direção à terra, deixando atrás de si um comprido rastro de luz.

«Foi alguém que morreu», pensou para consigo a menina; porque a avó, a única pessoa que tinha sido boa para ela, mas que já não era viva, dizia-lhe à vezes: «Quando vires uma estrela cadente, é uma alma que vai a caminho do céu.»

Esfregou ainda mais outro fósforo na parede: fez-se uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!

— Avó! — gritou a menina — leva-me contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás aqui. Vais desaparecer como a lareira, como o ganso assado, e como a árvore de Natal, tão linda.

Riscou imediatamente o punhado de fósforos que restava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os fósforos espalharam em redor uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a avó lhe parecera tão alta nem tão bonita. Tomou a neta nos braços e, soltando os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, tão alto, que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham chegado ao reino de Deus.

Mas ali, naquele canto, junto do portal, quando rompeu a manhã gelada, estava caída uma menina, com as faces roxas, um sorriso nos lábios… morta de frio, na última noite do ano. O dia de Ano Novo nasceu, indiferente ao pequenino cadáver, que ainda tinha no regaço um punhado de fósforos. — Coitadinha, parece que tentou aquecer-se! — exclamou alguém. Mas nunca ninguém soube quantas coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem o brilho com que entrou, na companhia da avó, no Ano Novo.

3 de dezembro de 2009

Sobre o muito pensar.

Penso nele sem doer
De um jeito que acalma
Não rói, não torce nem despedaça
Anima a alma!
Me ajuda a comemorar, tira a agonia
Dou sorrisos disfarçados
Como alguém a sonhar
E quem olha pra tamanha alegria
Tenta adivinhar

Penso nele sem rigor
Não tem horário
Não tem torpor
Nem rotina
Nem itinerário
Desvario de sonhar.

Penso nele sem cansar
No café, na escola, no trabalho e aonde mais passar
É tão leve que não tem obrigação de falar
Só de ver, da pra notar que o pensamento não sai de lá...

Penso nele sem pensar
Aparece lá como se fosse estampa
Marcado de tinta, fresco, novo e solto!
Todo à toa, de popa à proa.