29 de setembro de 2009

Não grites, não suspires, não te mates: escreve
Drummond


Chorei um choro rasgado, choro seco, choro molhado, choro tímido, choro tatuado, choro de arrancar o peito de dentro de mim e chorar junto com ele, choro amargo, choro no breu, choro largo, choro de se olhar no espelho e chorar de pena, choro de chuveiro, choro doído, choro de carro, choro despido, choro vestido, choro com trilha sonora, choro confundido, choro baixinho, choro arrependido, choro alto, choro repentino, choro  de (com)paixão, choro no silêncio, choro discreto, choro cantado, choro público, choro junto, choro cansado, choro concreto, choro desabafo, choro acostumado, choro soltinho e choro acumulado.


27 de setembro de 2009

Pérolas do Terceiro Ano

Acho que o terceiro ano do ensino médio é a fase que a maioria das pessoas sente uma espécie de contradição de sentimentos, um deles é a vontade de sair logo da escola, para uma fase de descobrimentos e de perspectiva de uma vida totalmente diferente e o outro é o de nostalgia, apego e saudades de algo que fez parte da vida durante muitos anos e irá acabar. Foi assim comigo, só que a segunda sensação bateu mais forte. Não pelas pessoas que conviveram comigo, porque essas eu tenho certeza que vou manter contato pro resto da vida, mas pela nossa convivência diária, confidências, sambas no meio da aula, risadas, esconde-esconde pela escola, besteiras e aprendizados... Foi o ano que aproveitamos o máximo daquilo que já estava por um fio: a nossa infância. A minha sala tinha apenas 16 pessoas, então não tinha gente nem espaço suficiente para divisão, era todo mundo muito unido e isso contribuia muito para toda algazarra que fazíamos. Estou nessa nostalgia toda por que hoje achei um documento preciosíssimo que o Fernando (Perna) fez durante o nosso ano, ele anotava em um caderninho todas as conversas, situações e frases engraçadas que aconteceram durante as nossas aulas. Vou copiar algumas delas aqui, gostaria de colocar todas mas são 16 páginas de word(!!!):


Obs.: Os comentários são todos do autor.

Obs2.: Algumas coisas só fazem sentido para quem as vivenciou.

“Na Aula de inglês: O ‘but’ exerce ligação na frase.
Na aula de religião: O que nos liga à Deus?
Massa: O BUT!”

“Professor Wilson:
No começo da aula: Faça a sua parte para o Brasil melhorar, se um cara jogar um papel de sorvete no chão, vai lá e pega...
No final da aula: O que nós podemos fazer para melhorar o Brasil?
Giga: Pegar o papel de sorvete do chão!”

“Professora Marize: O que você quer exercer no futuro, o que quer fazer?
Fernando: Atuar!
Pedro: O quê? Tabuada?!
Clara: Tocar
Pedro: Então você é uma toqueira! (cuma?)
Marize: Agora me diga uma coisa que você não quer nunca aprender e não gosta.
Pedro: Ser viado!”

“Pedro queima a prova de física no meio da aula! (normal!) Depois fala: Meu, coloca música, é melhor pra ficar queimando as coisas.”

“Professora Marize: Agora me digam: Como vocês vão estar daqui a 7 anos?
Se liga nas respostas inteligentes da nossa classe prodígio:
Paiva: Vou estar com 25...- NÃO! Sério?
Pedro: Eu vou viajar com meu cabrito velho!
Caio: Eu vou tentar não ser pobre!”

“Professor Péricles chega de avental.
Raquel: Você tá parecendo um pasteleiro!
Lobão: Vê dois quilos de alcatra!”

“Henrique: A palavra ‘imperialismo’ me lembra os elefantes em guerras medievais”

“Professora Marize passando sermão: Quem vai pagar o preço sou eu!
Pedro: Não importa: Todos vão morrer!”

“Pedro: Todo cachorro que tem uma bola só, pode perceber, já guardou rancor!
Pedro: Minha mãe mandou eu fazer o pré de novo, porque eu sou muito inteligente!”

“Caio para o Professor de química: Profº Alex, eu gosto de você e não gosto da matéria!
Bárbara: Eu gosto da matéria!”

”Raquel da um grito do nada: TCHUKI! TCHUKI É CARINHO- Êta cachaça!”

“Lobão para professora Beth: Responda sinceramente, você já soltou uma bufa na sala de aula??? Isso é pergunta?”

“Pedro:... tem que ter jogo de cintura pra dar aula no 3º!
Professor Sandro: Jogo de cintura? Tem que ser dançarino pra dar aula pra vocês!!!”

“Raquel e Bárbara conversando.
Prof Sarah: Pra fora as duas!
Raquel: Não professora, a Bárbara não tem culpa!
Prof Sarah: Então sai só você!
Raquel: Mas eu também não tenho culpa!
(A Raquel sai. Depois de uns 2 minutos ela abre uma fresta da porta coloca a cabeça pra dentro e fala com mó cara de cachorro abandonado)
Raquel: Posso voltar agora??
Prof Sarah: Não!- Huahuahauhauha!!!

“A sala conversando.
Professora Beth: Eu vou falar o que eu falo para as crianças: você copiar prestando atenção já é meio caminho andado...
(Giga continua conversando)
Eu acho que você não me entendeu, copiar conversando não adianta nada
Giga: Mas eu tô conversando sem copiar, aí tá certo!”

“Professora Débora com a folha de ocorrência na página do Pedro:
Débora: Devia ter a opção: atraso mental, não tem, que pena!”

“Pedro no primeiro dia de aula: Paivão você tá viva?! Achei que você ia morrer!
Paivão: Porque?
Pedro: Por que sempre alguém morre, né?!”

“Subes: Profª, ontei eu fritei o ovo em cima do bife. O bife ficou com gosto de ovo e o ovo ficou com o gosto de bife”

“Professor Wilson: Na frase: ‘A Layara chora’, Layara é um sujeito simples ou composto?
Pedro: Composto! Porque ela tem o Henrique!”

“Professor Sandro: O gás é leve?
Giga: Depende do que você comeu!
Rodrigo: Se for uma feijoada, aí é pesado, hein?!”

“Giga: Psora Patrícia, porque eu tô arrotando ovo frito se hoje eu não comi nada de ovo?”

“David: Então pra viagem, já está tudo engatilhado.
Raquel viajando já: Precisa levar forninho elétrico?”

“Giga: Eu não fiz palhaçada, só soltei o sutiã da Bárbara (Só!Huahuahuahua)
Professora Sarah: Mas é uma sensação horrível!
Bárbara: É tudo caído!
Giga: O meu cai e eu não uso sutiã!”

22 de setembro de 2009

Preparação



Antes do amor chegar preciso arrumar a casa, lavar as janelas, pintar as paredes, fazer do meu jardim um ninho, tirar as ervas daninhas e plantar os girassóis. Por enquanto está tudo muito desarrumado, desalinhado, acabrunhado, cê me desculpa seu moço, mas eu tenho que me organizar. Vou fazer do meu lar o seu conforto bem presente e do meu corpo, seu corpo. O firmamento será de concreto, livre de oscilações e dos perigos de desabamento. Terá um chuveiro grande prá te lavar dum dia ruim e desatar o nó das costas do jeito que minha mãe dizia- é só deixar a água quente escorrer que melhora! O piso será de madeira prá você andar descalço e não pegar resfriado. A casa terá dois espelhos, um grande e outro pequeno, o grande para você ver o quanto é bonito, para te afirmar. O pequeno é só para os detalhes, lá você poderá enxergar o jeito que as mãos se tocam, os bilhetes nos sapatos, os lençois marcados e a cumplicidade nos embaraços do dia. A porta vai estar sempre destrancada, você poderá entrar e sair à hora que quiser. O seu carinho vai estar sempre no sofá, com cafuné, beijo, cheiro e abraço. Nesse lar, o amor não será negligenciado nem moderado, ao contrário disso, será cheio de apetite e paixões. A mesa será cercada de amigos e os pratos lotados de maturidade e bom senso. No mural, alguns momentos nossos fotografados para sentirmos saudades e vontade de outros iguais aqueles. Uma casa, eu casada, recheada de acasos e dos nossos casos.

20 de setembro de 2009

Viajante

Com todas as formas de brincar
Criei ilusões, desmontei corações
Joguei com alguns botões

Me revelei nas musas
Me escondi nas blusas
Sorvi saliva das bocas cruas

Me alimentei de promessas amigas
Multipliquei as almas sofridas

Colori as pistas de solidão
Dei vazão a criação
Aumentei as cantigas de separação

Superei as dores
Despedacei as flores

Sorri com malicia
E parti sem preguiça
Para os novos amores.


Raquel Costa

17 de setembro de 2009

Fragmento da minha leitura atual

“ Onde há inocência? Onde há vontade de gerar. E quem quer criar para além de si, este tem para mim a mais pura das vontades.

Onde há beleza? Onde tenho de querer com toda vontade; onde quero amar e sucumbir, para que uma imagem não permaneça apenas uma imagem.

Amar e sucumbir: isso rima desde as eternidades. Vontade de amor: isto é, estar disposto também para a morte. Assim falo eu aos covardes que sois!”- Nietzsche, Friedrich. Assim falou Zaratustra.

15 de setembro de 2009

O que me coloca em perigo é o que leio.

Quando vejo minha alma refletida no texto de outra pessoa, socorro! Perco toda a minha sintaxe. Fico impávida e sonho com os “amores com cheiro das amêndoas amargas”. As minhas paixões platônicas foram a primeira prosa. De tudo que lê, guarda teu coração. Não seja um tolo como eu, não se deixe ludibriar com palavras, pois o significado embutido nelas foi você quem deu. Se há beleza, é porque ela é tua. Saiba que não passam de palavras com significados e que são as ações dos que escrevem que vão condizer ou não com o escrito (apesar disso não influenciar o que foi criado).
Não falo das cartas de amor, pois estas são direcionadas, e normalmente  o que ama fala dele mesmo. Falo dos escritos sem direcionamento, daqueles que arrancam o seu íntimo e o expõe sem pedir licença, dos que não fazem carnaval, são discretos, usam o silêncio que desperta coisas que já aconteciam, só não tinham consciência de ser, falo de toda poesia. Fique atento quando isso acontece e não confunda o escrito com o escritor, retêm o quê é bom, não fantasie e nem crie metáforas, saiba ser sensato e leve do momento só a emoção de descobrir algo novo que já existia. Não vá procurar por ai réplicas do Vinicius de Morais e nem de Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque então, nem pensar, são muitas muheres para disputar contigo, Joana, Beatriz, Carolina dos olhos tristes, Angélica, Barbara, dentre outras, não pense no Neruda, esqueça o Leminsk, fuja da Cecilia Meireles e não se envolva com Clarice Lispector, Bocage não lhe faria bem, Adélia Prado não te bastaria, Shakespeare certamente iria abandoná-lo, Augusto dos Anjos te deprimiria, Fernando Pessoa te enganaria, Camões seria um paradoxo pra você, Manuel Bandeira iria para Paságarda e tu ficarias sem teu bem, Mario de Andrade te enloqueceria e Maiakóvski nem nasceu. Não vá complicar sua vida, procure alguém bem eloquente, que goste de verão, seja seguro, equilibrado e que assista filmes comédia-romântica-açucarados.

11 de setembro de 2009

COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguri linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado.

8 de setembro de 2009


Redenção

Numa ânsia de tentar
Esqueci de agir
E as possibilidades escorreram como água entre os dedos.

De todas as coisas que tinham de ser,
restaram algumas.
Meu vestido esta roto e a vide em flor.

Vou fazer dos retalhos de bons frutos uma veste
para a ceia do meu bom Senhor.

2 de setembro de 2009

Lábia

Composição: Edu Lobo/Chico Buarque

Mas nem cantor incendiário
Ataca à queima-roupa a canção
Há sempre um tempo, um batimento
Um clima que a introduz
Que nem abelha ronda a flor
Que nem dá voltas ao redor
Da lâmpada, ao redor da lâmpada
O bicho-da-luz

Nem pode à meia-noite
Abrir um sol a pino de supetão
Nas noites em câmera lenta
Espero por meu bem
Lábia, flor do bem-me-quer
Lábia que adoça a boca de mulher
Dom de mulher
Que os homens têm

Palavras de virar cabeça
Meu amado vai usar
Palavras como se elas fossem mãos
Tantos rodeios
Pra enfim me roubar

Coisas que dele já são
Mas nem uma mulher em chamas
Cede o beijo assim de antemão
Há sempre um tempo, um batimento
Um clima que a seduz
E eis que nada mais se diz
Os olhos se reviram para trás
E os lábios fazem jus

1 de setembro de 2009

DIMINUTO

Ele pensava em salvar o mundo, mas isso era acompanhado de uma vontade maior de reconhecimento. Sabia da necessidade pérfida e autodestrutiva que sentia de aprovação dos outros, fez diversas tentativas para não ceder à isso, mas foram vãs. Era só um instante de distração que já estava ele lá, elogiando, pensando nos gostos de pessoas diferentes e em como satisfazê-los e agradá-los. Colocava-os em um pedestal, dava-lhes um apito, três cartoes e o poder de julgar. Vestia-se embasado nas tendências que iriam o incluir no patamar de aprovacão geral, falava o vocabulário inventado pelos seus ditadores e jamais discordava. Sua satisfação se baseava no seu culto elitista. Aparentava ser pessoa de grandes criações e de uma personalidade imútavel, mas no seu íntimo era uma criatura minguada que não havia se desenvolvido, quase nula, reclusa na sua casca de insegurança, frágil e pequeno.