1 de setembro de 2009

DIMINUTO

Ele pensava em salvar o mundo, mas isso era acompanhado de uma vontade maior de reconhecimento. Sabia da necessidade pérfida e autodestrutiva que sentia de aprovação dos outros, fez diversas tentativas para não ceder à isso, mas foram vãs. Era só um instante de distração que já estava ele lá, elogiando, pensando nos gostos de pessoas diferentes e em como satisfazê-los e agradá-los. Colocava-os em um pedestal, dava-lhes um apito, três cartoes e o poder de julgar. Vestia-se embasado nas tendências que iriam o incluir no patamar de aprovacão geral, falava o vocabulário inventado pelos seus ditadores e jamais discordava. Sua satisfação se baseava no seu culto elitista. Aparentava ser pessoa de grandes criações e de uma personalidade imútavel, mas no seu íntimo era uma criatura minguada que não havia se desenvolvido, quase nula, reclusa na sua casca de insegurança, frágil e pequeno.

2 comentários:

André Hasse Urel disse...

Meuu, muito bom seu Blog, textos bem poéticos, concisos...excelente!!

Beijoo!!!

Carlos disse...

"falava o vocabulário inventado pelos seus ditadores e jamais discordava"

Interessante este texto, ainda mais, porque se trata de alguém que quer salvar o mundo e , na verdade, apenas reproduz as ações emperdenidas, já inclusas no processo de aceitação social.
Melhor fosse dizer, talvez, que a ideia da personagem de salvar o mundo pode ser sua vontade de reconhecimento, reconhecimento este que tem classe, modus-operandis e que, em seu bojo, possui aparências, "cascas" e que cria a imagem de um todo organizado, "imutável".
O que parece , no final do texto, é que a própria ideia de salvação do mundo já é um valor de uma dada classe, fetiche de uma cultura que quer ser heróica e que, no fim das contas, é só "nula", "frágil" e "pequena".

Parabéns pela capacidade de sintetizar as ideias e conceitos de maneira tão concisa e pela temática intrigante.

Beijos,

Carlos-boi