17 de novembro de 2009

Prelúdios poéticos

No1

No manto lento
Do teu canto
Acalanto.

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No2

Quizá verás
num mar distante
refletidos
no espelho de lua que suspira
los sueños que cabem na nossa sorte
sortidos de espumas cristalinas

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No3

As sépalas
me guardaram
até então
aparecerem
exornarem
o jardim:
as pétalas.

5 comentários:

Miguel Del Castillo disse...

Raquel, vc também é blogueira!

Gostei do poeminha. Favoritei-te, passa lá no meu!

bjs,

Miguel

Lauro disse...

Nossa Raquel!!! Que lindo!
Vc é demais!
Bj

Carlos disse...

raquel, estes três poemas estão bem interessantes. Comecemos pelo primeiro. Gostei de como os planos se misturam, e há uma união de sentidos. Vejamos, o "manto" que remete a um plano do tato (e que se refere também a uma espécie de proteção sutil e delicada) ganha uma nova possibilidade semântica ao se unir a ideia de lento e de canto - isto é, planos estes que podem ser associados à audição, mas não qualquer audição; àquilo que toca diretamente a sensibilidade - a música, por assim dizer.
Desta forma, o que este primeiro poema sugere é a segurança advinda destes elementos leves, sutis (simbolizados pelo manto, lento, canto), porém não só a segurança como também uma espécie de maciez, de ternura. Esta sensação desemboca no último verso na resolução de todas as sensações sintetizadas em uma palavra, espelho até mesmo vocabular de todo o evento do texto, isto é, o canto, o manto, e o lento - que fusionados geram a síntese do significado da voz do outro ser que canta: Acalanto.
Poema ótimo este e bem conciso. Parabéns.

Carlos disse...

Bom, falando agora do segundo,
neste também há vários planos, mas utilizados de forma diferente. Uma imagem parece se transmitir a outra não necessariamente como fusão , mas talvez como reflexo. Aqui o interessante também é o uso de certos vocábulos do espanhol, que cria o trajeto lexical desta distância colocada no texto. Temos, pois, a imagem de um mar distante, lugar este em que tudo se mistura como numa projeção de espelhos. As imagens se deslocam umas por sobre as outras e de repente tudo vira um grande vitral marítimo. "Los sueños que cabem na nossa sorte" e "sortidos de espumas cristalinas" - imagem que traz a beleza de tais sonhos, capazes de brilhar como espumas - estes dois elementos estão refletidos num "espelho de lua" e ainda, de "lua que suspira", isto é, quem sabe esta lua também não esta toda embargada nos sentimento amoroso de maresia?

Interessante jogo de imagens e legal a personificação da lua... me lembra até uma música espanhola - "hijo de la luna"- apesar de ser outro contexto.

Carlos disse...

E por fim, este último poeminha. Neste, há todo um processo de crescimento, ou melhor de amadurecimento, termo que pressupõe um fruto como destino final, mas que neste poema tem como endereço último as pétalas.
Há no começo a ideia de sépalas que guardam. Como se protegessem algo que estava apenas na espera da saída. De repente, sem uma razão dada (bom, pelo menos no poema) estas sépalas aparecem e "exornam". Em tal ato, vê-se o jardim, algo como o "fruto" de toda esta trajetória de desprendimento, de libertação; e bem dizendo, é jardim porque é coletivo, isto é, não é apenas um "fruto"( ou melhor uma manifestação de brotamento), mas sim, todo um jardim de inumeráveis nascimentos - pétalas, parte mais colorida da planta, de onde se vê, quem sabe, sua pujança de vida.

Parabéns pelos três e pelos três sentimentos.

Abraço.