8 de outubro de 2009

Poema de cabeceira

Recentemente conversei com um amigo sobre as coisas cuja repetição não é fatigante, pelo contrário, é por meio desta que elas se tornam mais valorosas para nós, como se fossem um rito, um exemplo disso é pedir o mesmo prato todas as vezes que vamos num restaurante, ou aquela camiseta que já está surrada de tanto usarmos, uma marca de xampu, um doce que vende na porta da faculdade ou até um amor jurássico que nunca temos “coragem” de abandonar. Essa poesia da Cecília Meireles é um desses casos de repetição meu, o livro está até marcado na página dela, de tanto que a leio. Por achá-la uma boniteza quis compartilhá-la com vocês, repitam a leitura à vontade!

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles

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