18 de outubro de 2009

Leito

Eis o momento de desalinho:
dou um estalo com os lábios
tingidos pelo vinho
seguro seu queixo
sinto teu hálito quente
na minha boca rubra,
sabor do beijo que me acende.

O nosso cobertor não
é algo que se emende
santuário perfeito
para nosso sacrifício
amor e vicío.

Como tiras de cetim em cabelo liso
as mãos escorregam nas coxas redondas
miro risonha as carícias que mostram
as escondidas malícias.

Somos benignos até
nessas horas de maldade
presentes unidos contemplamos com vaidade
nossos corpos atados.

As horas não cabem na nossa vontade
e a noite não têm piedade
aos poucos ela se esvai
e os raios que tingem nossa pele
acabam com nossa quentura de paixão
em mim florece a amargura da separacão.

Um comentário:

Carlos disse...

Gostei deste também. Ele é bem sensual e, por outro lado, há uma espécie de tragédia...principalmente na última estrofe.
Às vezes, seus versos me lembram uma Florbela Espanca, salvo que vejo em você uma maior suavidade, e um sentimento do trágico mais ameno do que na autora portuguesa.
Gostei, sobretudo, desta parte:
"Como tiras de cetim em cabelo liso/as mãos escorregam nas coxas redondas/miro risonha as carícias que mostram/ as escondidas malícias"
Lindo, isto.

Beijos,

Carlos-boi