28 de outubro de 2009

Orquestra comilômica.


Num louvor à comilança, a cozinha se confunde com uma orquestra bem harmônica e promove um culto aos sabores. As colheres e os garfos metálicos tilintam embalados pelo vento que entra pelas janelas abertas, a panela de pressão imita o barulho de um trem, os passos apressados em satisfazer as fomes, improvisam um solo no solo, que segue toda progressão harmônica, e os burburinhos de algumas efemeridades faladas se confundem com o compasso de colcheias exatas de cada batida da faca na madeira ao cortar a cebola em mínimos quadradinhos, a contagem destas, poderia ser comparada a um metrônomo com 96 batidas por minutos. A parede nostálgica, de azulejos azuis e brancos está repleta de pequenos brilhos cristalinos, causados pelas micro-bolhas-flutuantes que saem da erosão de água com tempero dissolvido . No fogão, as labaredas fazem dos pedaços crus uma explosão de cheiros, estes envolvem e unem os presentes num uníssono coral de gentileza à criatura que prepara as delícias que irão satisfazer as suas vontades carnais.
Sentam-se nas cadeiras e apóiam os braços na mesa, púlpito dos manjares e das discussões calorosas, e então numa comunhão de paladares, compartilham um único alimento feito a partir da mistura de algumas matérias primas e preparado por alguém que soube, com maestria, combiná-las e cozinhá-las. Bon appetit.

Um comentário:

Dani Kishimoto disse...

oi quel, q lindo! seu blog é o máximo! Beijo